sábado, 23 de outubro de 2010

Incredible India

Esse é o slogan do governo da Índia para o próprio país, errados? Não acho que sim, estas duas palavras expressam juntas a melhor resposta para tudo que tenho visto e vivido aqui.

Hoje li uma reportagem sensacional de uma repórter australiana (Catherine Taylor) que vive em Mumbai, ela vive na Índia há quase três anos, não tenho dúvidas que tenha passado por inusitadas experiências deste lado do globo, a reportagem é do The Australian (clique aqui para ver), ela expressa como poucos o que é viver na Índia, só estou aqui há três meses e quando li o artigo consegui imaginar as situações e as emoções que ela descreve.

Uma coisa é certa, inclusive já conversei sobre isso com alguns aqui, Incredible Índia não é para todos. Não gosto de parecer cidadão de país desenvolvido comparando e apontado as diferenças entre a Índia e meu país e nem tenho esse direito, afinal, meu país está em desenvolvimento e não gosto de comparar desta maneira, existem muitas razões religiosas, culturais e sociais por trás destas diferenças.

Assim como a Índia, o nosso Brasil tem muitos problemas e defeitos, que seriam facilmente resolvidos se comparados com os problemas que a Índia enfrenta, aqui eles falam mais de 1.600 diferentes línguas, as diferentes religiões não se toleram, eles vivem em guerra com alguns países vizinhos, terrorismo, sistema de castas, tudo isso deixa nosso país em vantagem em relação à Índia, certo? Não posso afirmar isso porque temos problemas em comum que podem atrasar ainda mais ambos os países rumo ao desenvolvimento, a pobreza e a corrupção são os que lembro agora. Antes que eu comece falar da corrupção política, vou voltar para o artigo, esse tipo de corrupção não é novidade para nós.

Além das situações que a repórter conta, a maneira como ela explica os sentimentos pela Índia é hilário, uma hora ela é sufocada pelo cuidado que a “Índia” tem com ela, outrora a “Índia” lhe dá um pontapé e de novo ela é abraçada com carinho. Tenho certeza que é mais fácil entender quando se vive a experiência.

Um exemplo próprio e recente foi esta semana, peguei alguma virose e pensei que era a tal da dengue de novo, sempre que essas coisas inesperadas acontecem o pensamento de “O que eu estou fazendo aqui?” vem à cabeça e com a mesma facilidade que vem, vai embora. Simples assim, por quê? Incredible India!

Abaixo coloquei algumas fotos dos festivais que aconteceram por aqui semana passada, neste próximo mês muitos festivais e casamentos acontecerão.






sábado, 16 de outubro de 2010

Commonwealth Games 2010 - II

Antes de ontem foi o encerramento dos Commonweath Games, eu fui ver a cerimônia no Jawaharlal Nehru Stadium Complex. A cerimônia durou mais de três horas, cheguei ao estádio por volta das 18:30 h. e o evento começou às 19 h. Por mais que pareça estranho, o show começou na mesma hora que estava escrito no bilhete, isso não e muito comum aqui na Índia, atrasos são considerados como normais.

O dia estava muito quente e acho que mais de dois quilômetros em volta do estádio estava fechado, só entrava quem tinha bilhete, zero carros, algumas pessoas, acho que a organização foi bem feita, assim como a segurança. Na verdade, a cidade parecia que estava em guerra, há algumas semanas um monte de policiais ficava com seus fuzis atrás de bunkers feitos de sacos de areia, observando o movimento e prontos para agir contra o terrorismo. Nenhum atentado terrorista ocorreu nessas semanas, diferente do que muita gente pensava, para alívio da maioria.





Por mais de uma hora tivemos que esperar os atletas entrarem e outra hora para escutar os políticos falarem, o próximo País a sediar os jogos teve uma participação (Escócia) e algumas coreografias indianas foram apresentadas, o show de luzes e laser foi bonito e para encerrar uma apresentação típica de Bollywood Movies, eles misturam musicas famosas em Inglês com músicas em Hindi e um monte de pessoas dançam com os mesmos passos, muitos falaram que não foi tradicional, mas foi bonito.








Muitas coisas mudaram aqui em Déli nas últimas semanas, algumas pessoas foram mandadas de volta para suas cidades natais, outras tiveram que parar de trabalhar, como o caso dos vendedores ambulantes e cozinheiros que trabalham nas ruas.

E adivinhem o que aconteceu hoje? Todos os ambulantes estavam nas ruas de novo e o lixo que eles deixam é facilmente notado. Os policiais sumiram das ruas e tudo vai voltando ao normal, infelizmente é assim que as coisas funcionam, tanto aqui na Índia, quanto ai no Brasil.

domingo, 10 de outubro de 2010

Indian Gate e Museu Nacional

Já havia colocado uma foto do Indian Gate aqui no blog, há muito tempo atrás (clique), ontem estive lá de novo. O monumento é bonito, um ponto de referência aqui em Déli e no museu tem muita coisa interessante, histórias de civilizações, esculturas, pinturas, moedas, roupas, esportes, armas, entre outras coisas pré-históricas, estou falando em objetos de quase 3.000 anos antes de Cristo, consegue imaginar?

Éramos sete pessoas, nos encontramos na escola e fomos para o metro, lá encontramos mais dois estudantes que estavam indo para outro lugar e se juntaram a nós. Toda semana novos estudantes chegam, toda semana quase morro de rir com alguns, geralmente são da Europa, eles ficam abismados com a diferença de cultura (algumas vezes não entendem). No metrô existem alguns vagões só para mulheres, como aqui a população de homem é maior que a de mulher, os vagões de mulheres geralmente são mais vazios, todos entramos pela porta dos vagões para mulheres e eu fui logo para o canto, aqui o metro tem uma conexão entre os vagões e é possível passar de um para outro, fiquei perto dessa conexão e o Roberto nem percebeu que tinha só ele de homem entre um monte de indianas. Era engraçado porque o vagão para homens estava abarrotado de pessoas e o de mulheres com bastante espaço, eu estava entre os dois vagões só observando. Os homens indianos não cruzam a linha entre os vagões, um senhor queria chamar a esposa (imagino que seja) que estava sentada no vagão de mulheres, ele pediu para outra mulher chamá-la. Depois de uns cinco minutos percebi que alguns indianos, no aperto do vagão masculino, estavam comentando alguma coisa sobre o Roberto, achei melhor avisá-lo, não demorou nem 30 segundo para ele se juntar no caloroso aperto do vagão. Ele ficou as próximas duas horas falando no absurdo que é isso, vagões diferentes para homens e mulheres.

Ao sairmos do metro, na estação perto do monumento, quem ficou surpreso desta vez fui eu. A paisagem era de uma cidade européia, ruas limpas, área verde, sem trânsito, sem barulho de buzinas, talvez alguma cidade na Inglaterra, já que os prédios foram construídos por eles. As únicas diferenças eram os auto-rickshaws e o calor. O dia estava nublado e abafado, não sei quantos graus, mas a sensação era de muito calor.




Assim como as ruas estão limpas, o Indian Gate é um monumento bonito, bem conservado e com muitos policiais fazendo a segurança, este monumento foi construído em homenagem a mais de 90.000 soldados indianos que morreram lutando pelo exército da Inglaterra durante e 1ª. Guerra Mundial. Nas paredes estão escritos os nomes de soldados e a tocha acesa no mármore preto é em homenagem aos soldados desconhecidos. O dia da Independência é celebrado perto deste monumento e todos os anos o presidente presta homenagem aos soldados falecidos.





Caminhamos do Indian Gate até Connaught Place (um centro comercial) para almoçarmos, comemos em um restaurante chamado QBA, comida boa (indiana, italiana e chinesa), lugar agradável, com bom atendimento e café expresso de cortesia.

Depois do almoço fomos para o Museu, nesta hora éramos em menos alunos, alguns ficaram em Janpath Market para fazer compras, neste mercado há um monte de lojas de artesanato, roupas, pulseiras, souvenirs, coisas para mulheres gastarem dinheiro. Talvez leve a Larissa lá quando ela vier, talvez!

Com o Commonwealth Games, Déli inteira está com eventos especiais, assistimos uma apresentação de dança típica indiana em frente ao museu. Tambores, cores, espadas e escudos, provavelmente era a dança dos guerreiros ou soldados.




Dentro do museu não é permitido tirar fotografia, na verdade você pode pagar para poder tirar foto, não paguei. O museu nacional foi o primeiro museu da Índia, são três andares e mais de 11 diferentes seções. As primeiras seções são sobre objetos em cerâmica de uma das primeiras civilizações do mundo, da civilização Harappan, que vivia nas terras indianas a mais de 3.000 anos antes de Cristo. As próximas seções são sobre esculturas em pedra, metal e madeira que contam a história dos povos que viveram aqui no passado. As seções que mais gostei foram as sobre pinturas dos deuses Hindus, moedas, armas e esportes. Existem registros que as primeiras moedas foram criadas no século VI antes de Cristo, algumas escrituras gravadas em bronze, que ainda não foram traduzidas completamente, e que supostamente eram usadas como forma de pagamento; vi também algumas esculturas da América do Sul que provavelmente foram trazidas por europeus, as armas e esportes praticados, as pinturas e esculturas de deuses (Ganesha, Shiva, Krishna, Parvati, Kali etc), de Gautama Buddha e também de Mahatma Gandhi.



quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Fátima Bernardes Indiana



Não é que parece mesmo? Colocaram esta revista na prateleira de revistas da escola e quando vi fui logo saber por que a foto da Fátima Bernardes estava em uma revista indiana, quando cheguei perto vi que não era ela.

Esta é Padmasree Warrior, uma executiva (CTO) da empresa Cisco, uma das maiores empresas de tecnologia do mundo. Warrior nasceu no mesmo estado onde ficam as cidades de Orchha e Khajuraho, chamado Andhra Pradesh. Mudou para Nova Déli para cursar o renomado Instituto de Tecnologia da Índia, depois cursou engenharia química, enquanto trabalhava na Kellogg, até começar a trabalhar na Cisco.

Duas mulheres de sucesso muito parecidas. Acho que vou desistir do estilo ‘bigode indiano’ e deixar meu cabelo crescer para cortar igual o delas.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Commonwealth Games 2010 - I

Já comentei algumas mudanças em Déli por causa deste evento, esses jogos acontecem a cada 4 anos, como as Olimpíadas e Copa do Mundo de Futebol, e ontem foi a cerimônia de abertura, no estádio Jawaharlal Nehru. Não consegui comprar ingressos a tempo e assisti a cerimônia pela televisão, sei que estes jogos não são comuns na América do Sul, mas pode valer de exemplo para nós, que vamos sediar dois jogos internacionais nos próximos seis anos. Esta é a primeira vez que a Índia está recebendo jogos desta importância.

Setenta e um países participam dos jogos, todos foram colonizados pela Inglaterra, as categorias são diversas: natação, tiro, atletismo, boliche, rugby, tennis, ciclismo, boxe, badminton, hokey, netball, entre outros. Essa foi a primeira vez que ouvi falar, tanto de alguns países (Seychelles, Lesotho, Cyprus, Jersey, Botswana...), quanto de alguns esportes.

Por que estou comentando sobre isso? Porque a Índia tem sido muito criticada pela organização do evento, alguns países ameaçaram não mandar suas equipes, outros atletas desistiram de vir, a vila dos atletas foi entregue com atraso, os gastos foram muito maiores do que foi planejado, tudo foi feito de última hora e às pressas. Foi engraçado quando o orador da abertura comentou das criticas e dos rumores de que Déli não teria capacidade de sediar os jogos e em seguida disse “Yes, we can!”. E antes de passar o microfone para o príncipe Charles, ele falou que sete anos atrás a Índia comemorou muito quando foi escolhida para ser a sede dos jogos de 2010 e que eles vêm trabalhando duro por dois anos para tornar isso possível. Agora entendeu a razão? Eles sabiam dos jogos há sete anos e começaram a trabalhar duro há dois, o pior é que falou isso com voz de orgulho no peito. Espero que não passemos por esse sufoco que eles passaram.

A cerimônia foi bonita, mostraram algumas danças indianas, as diversas religiões, Yoga, a marcha de Gandhi, fogos, o estádio é novo e moderno - já passei na frente algumas vezes - aparentemente tudo correu bem, o oposto do que os críticos comentaram.

Peguei algumas fotos no site oficial da festa (http://www.cwgdelhi2010.org/).



E hoje tirei uma foto do professor Bhanu (do post anterior), olha só que simpático.


Professor Bhanu Sharma

sábado, 2 de outubro de 2010

Sistema de Castas


Hoje vou falar um pouco sobre esse tema, acho que a maioria das pessoas do Brasil já ouviu falar nesse sistema, principalmente depois da global “Caminho das Índias”. Quem, praticamente me deu uma aula sobre esse tema, foi um professor indiano chamado Bhanu Sharma, sua família é da casta dos Brahmin, mas senti que foi bastante imparcial na explicação – eu estava em uma aula sobre a história de Índia e falei para ele sobre o blog, e que queria colocar alguma coisa aqui sobre o tema, como sempre, ele foi muito atencioso e após a aula entrou em alguns detalhes que vou compartilhar com vocês.

Inicialmente, algo em torno de 2.000 anos entes de Cristo, as castas foram divididas em quatro diferentes categorias: Brahmin, Kshatriya, Vaishya e Shudra, depois o nome desta última casta foi mudado para Harijan. Originalmente foram criadas pelos Hindus para dividir as diferentes categorias de profissionais, ou seja, cada classe era dividida de acordo com a profissão do cidadão, por exemplo:

  • Brahmin: padres, sacerdotes, professores - pessoas com sabedoria e conhecimento.

  • Kshatriya: soldados, guardas, o rei - aqueles que cuidavam da segurança do povo.

  • Vaishya: comerciantes, banqueiros, vendedores (burgueses) - os que geravam dinheiro.

  • Shudra: os pobres, garis, trabalhadores em geral, filhos bastardos – considerados “sem casta”, aqueles que tinham uma profissão e, literalmente, punham a mão na massa, geralmente os trabalhos sujos eram feitos por pessoas desta casta.
Assim como temos faculdades e universidades para ensinar os futuros profissionais a exercerem suas funções, o sistema de casta fazia algo parecido, após escolher alguma profissão a pessoa deveria se juntar ao grupo de profissionais para que aprendesse a função e então, após o aprendizado, pudesse praticá-la.

Naquela época o termo Hindu era usado para todas as pessoas que viviam na região do Paquistão e noroeste de Sindhu. “River Sindhu” é o nome de um rio indiano e esse era o antigo nome da Índia, desde 3.000 anos antes de Cristo. Atualmente conhecemos a Índia como “Índia” graças aos Gregos e Persas que não conseguiam pronunciar o nome Sindhu.

Até por volta do ano 1.000 antes de Cristo, o sistema vinha funcionando e uma mesma família era formada por pessoas de diferentes castas, dependendo da profissão de cada um.

Foi quando, com a chegada das Leis dos Muçulmanos, os Brahmin fizeram um acordo entre eles e mudaram as regras do Sistema de Castas, obviamente para favorecer a sua classe. A partir de então, as mulheres e os cidadãos da casta dos Shudra perderam o direito de aprender a ler e escrever, a língua da época era o Sanskrit, segundo o professor Bhanu, essa foi a primeira língua da história. Outra grande mudança foi à separação das castas por nível de importância e poder, além disso, o sistema passou a ser hereditário.

Agora os Brahmin controlavam a sociedade, uma grande quantidade de pessoas acreditava fielmente nas coisas que diziam (não entendiam as escrituras) e usavam as outras castas para proteção, segurança e como forma de renda, cobravam por serviços religiosos.

E assim foi por um longo período, até que as outras religiões começaram a chegar à Índia, por volta do ano 40 depois de Cristo o Cristianismo foi trazido pelo Santo Thomas.

Em 1.498 as fragatas portuguesas de Vasco da Gama chegaram na Índia, observaram a vida e o sistema de separação social dos indianos e em 1.600 criaram o nome Casta, antes disso o nome do sistema era Varna. Pasmem, a palavra Casta tem origem portuguesa e significa separação, divisão em raças.

Por volta do ano 1.500, quando o Brasil foi ‘encontrado’ pelos portugueses, os Shudras precisaram mudar para fora das cidades, que na época eram controladas pelos reis e cercadas de muros, como aquele das fotos que tirei em Orchha. Os Shudras não tinham direito a nada e começaram a ser considerados intocáveis, não podiam compartilhar as coisas dos demais por fazerem os trabalhos considerados como sujos.

A Inglaterra chegou a terras indianas em 1.600 e após algum tempo começaram a controlar alguns reinados com o objetivo de não precisar pagar taxas para explorar os recursos deste País, as cidades de Goa e Dadra Nagar Haveli foram as primeiras a serem controladas por eles. Os ingleses não encontraram muita resistência para tomar muitos dos reinados existentes, eles perceberam que toda a sociedade era dividida e após algumas alianças religiosas conseguiram controlar quase todos os reinados sem muita resistência.

Neste meio tempo, entre os anos de 1.450 e 1.600, as outras religiões ficaram mais fortes, como os protestantes e católicos. Pobres e pessoas sem casta passaram a adotar essas religiões porque nelas não havia separação por castas, os missionários diziam a eles para não seguirem a religião Hindu: “reze para um único Deus e ele o recompensará”. Acredito que não tenha sido uma missão fácil, já que na religião Hindu existem mais de 350 milhões de deuses, não escrevi errado: mais de 350 milhões de diferentes deuses e depois disso eles passaram a crer em somente um.

Quando Mahatma Gandhi voltou para a Índia, em 1915 - após ter estudado em outros países – ele começou o pacífico movimento pela liberdade da Índia dos colonizadores ingleses, o movimento ganhou notoriedade após a II Guerra Mundial, foi Gandhi quem mudou o nome de Shudra para Harijan, que significa “pessoas de Deus”, com a intenção de acabar com as diferenças entre castas.

Após 15 de Agosto de 1.947, quando a Índia se tornou independente, os indianos ficaram três anos sem constituição, até que o indiano B. R. Ambedkar finalizou o que foi chamado de “Constituição da Índia”, todas as regras desta constituição foram baseadas no “fundamental direito de igualdade”, já que o escritor era da casta dos Shudra, e desde então a separação e discriminação por castras é proibido na Índia.

Ainda assim, atualmente, muitos casamentos são arranjados, muitos dos Brahmin cobram por serviços religiosos e conheci alguns indianos que se apresentaram como sendo da mais alta das castas.

Nunca fui um bom aluno de história, minha mãe costumava me ajudar com essa matéria quando eu estava na escola, e nunca imaginei que seria capaz de escrever tanto sobre esse tema, é obvio que é um resumão, mas acho que agora consegui entender um pouco melhor o sistema. Trazendo toda essa história para os dias atuais, penso que o mais interessante é saber que muitos líderes, aqueles que têm a importantíssima responsabilidade de cuidar dos outros, desde muitos anos atrás simplesmente mudam as regras e (acabam com) as vidas de muita gente somente para benefício próprio e da família. Amanhã é dia de eleição no Brasil e não vou poder votar, espero que façam uma boa escolha, não digo “a escolha certa” porque diante dos candidatos que temos não estou certo que isso é possível – sinceramente espero que sim!

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Orchha e Khajuraho - Kama Sutra Temples

E as viagens continuam. No fim de semana que passou fui para Orchha (435 km de Déli) e Khajuraho (600 km de Déli). Duas pequenas cidades históricas e com arquitetura fascinante – templos e palácios dos séculos X e XI. Ambas estão no coração da Índia, no estado chamado Madhya Pradesh.

Viajar na Índia, partindo de Déli, nunca é uma viagem fácil. Assim como o Brasil, a Índia é um país muito grande e apesar da vantagem da malha ferroviária ser grande, as viagens de trem geralmente demandam muitas horas. No bilhete do trem a previsão era de deixarmos Nova Déli às 22h40min h. e chegarmos em Jhansi (uma cidade perto de Orchha) às 05h05min h., trem com ar condicionado e cama para dormir (chamado de ‘AC Sleep’), por algum problema - que não sei explicar qual foi - eles venderam dois bilhetes para a mesma poltrona, quando cheguei na minha cama/assento lá estava um senhor indiano deitado, perguntei ao homem que confere os bilhetes e ele me disse que eu poderia ficar junto com o indiano, ‘sem problemas’, aliás, está é uma frase que a maioria dos indianos adoram dizer, e eles podem fazer isso em todas as línguas. Insisti na impossibilidade de ficar na mesma cama que o outro homem e então fui encaminhado para outro vagão, sem acesso ao vagão que os outros estudantes e o Jason, diretor da escola, estavam. Lá vou eu com minha mochila para o outro vagão, esperei o trem parar em uma estação e fui correndo para o outro vagão, lá estava minha cama, desta vez vazia. Ajeitei minhas coisas, escovei os dentes (não recomendo usar a água do trem para escovar os dentes, tive alguns problemas em Varanasi que podem ter sidos causados pela água do trem) e deitei para dormir. Acordei e já era mais de 6 horas, assustado perguntei para um visinho de cama onde estávamos, ele me disse que ainda faltavam duas estações para Jhansi, sorte a minha, esta é uma qualidade (ou defeito) que a Índia não copiou dos Ingleses - uma vez que foram colonizados pela Inglaterra - a pontualidade. Em geral, os indianos estão sempre atrasados e as coisas demoram mais tempo do que eles prometem.

Duas estações depois desci em Jhansi e encontrei com os outros que viajavam junto comigo, estávamos em cinco pessoas, esta é uma boa quantidade, as decisões são tomadas mais rápido e é mais fácil para se mover pelas cidades. Uma parte da viagem estava concluída, depois do trem pegamos um taxi para ir até Khajuraho, já tínhamos viajado quase 9 horas de trem e ainda faltavam mais 3 horas e meia de carro. Após longa negociação, acertamos com um grande carro e fomos para Khajuraho. Chegamos lá mais de uma hora da tarde, fomos direto para um restaurante justo em frente ao conjunto de templos mais conhecido da cidade, almoçamos e fomos conhecer os templos.

Os templos são bem conservados e a cidade é a mais limpa que conheci até agora aqui na Índia, na verdade é uma pequena vila no meio da floresta, muitas casas sem energia e as pessoas caminham pela rua com baldes de água na cabeça, provavelmente não tem água encanada. O preço do bilhete para turistas é Rs 250,00 (algo em torno de dez reais). Atualmente, Khajuraho é um dos mais populares destinos da Índia, do lado externo dos templos Hindus existem esculturas feitas em pedra de homens e mulheres em posições do Kama Sutra. Na verdade, o manual do Kama Sutra, que significa ‘modos de amar’ (tradução própria), foi escrito por um indiano segundo os princípios da filosofia Hindu. Os Hindus usam ir aos templos para orar, encontrei diversas famílias nos templos, as imagens são admiradas e tratadas com respeito, recomendo que contratem um guia quando conhecerem esses templos, existem muitos detalhes imperceptíveis àqueles que não conhecem a história dos templos.




Conhecemos mais dois templos fora do principal complexo de templos e fomos para Orchha. Partimos de Khajuraho umas 19 horas e a viagem entre Khajuraho e Orchha demorou 3 horas e meia, estávamos desde o dia anterior sem tomar banho, dormimos no trem e andamos o dia inteiro, nem vi quando saímos de Khajuraho, dormi assim que entramos no carro. Após umas duas horas de viagem, muitos trancos por causa da má conservação das estradas, poderia dizer que a estrada estava deserta se não fossem as vacas e bois pelo caminho, acordei e fui surpreendido mais uma vez, vimos um corpo estendido na estrada, pedimos para o motorista parar, ele já tinha passado reto, e vimos de dentro do carro que a pessoa provavelmente tinha sido atropelada, as pernas estavam em uma posição estranha e o rosto do homem estava virado para o chão, não parecia um mendigo, vestia roupas normais. O motorista falou para não pararmos e que ele iria ligar para a polícia, o corpo ficou lá, não me senti muito bem com isso, pensei em colocar alguns galhos para sinalizar, quase não vimos o corpo no chão e outro acidente poderia acontecer, enfim, acatamos a sugestão do motorista, ele disse que em 10 anos como motorista já viu essa cena umas oito vezes, corpos mortos abandonados nas estradas. Paramos no próximo posto de gasolina e ele ligou para a polícia.



Quando chegamos a nosso hotel em Orchha, mais uma surpresa para mim, o hotel era dentro de um palácio, essa é a vantagem e desvantagem de viajar com o diretor da escola, ficamos em um hotel muito bom, mas tivemos que pagar por isso. O Hotel se chama Sheesh Mahal e tem apenas sete quartos mais a suíte imperial, na verdade o hotel era usado pelo rei da Inglaterra, quando ele visitava os palácios que foram construídos por outros reis entre os séculos IX e XI. Estávamos cansados e precisando de um banho, o quarto era confortável, limpo e os móveis impressionam, o banheiro é maior que o meu quarto daqui de Déli. Tomamos um banho e jantamos na cobertura do hotel, a comida servida estava muito boa, comemos alguns pratos indianos, incluindo um que eu gosto chamado Frango na Manteiga (também minha tradução). Depois de comer um monte e com o cansaço e adrenalina do dia, tive uma ótima noite de sono – o que não é muito difícil de acontecer.





No dia seguinte acordei 6 horas da manhã para ver o nascer do Sol, o dia estava nublado, voltei a dormir e acordei de novo às 8 horas, tomei café da manhã e fui sozinho conhecer os palácios em volta do hotel, o bilhete custou o mesmo que o dos templos do dia anterior: Rs 250,00. A construção é fascinante, visitei o quarto principal do palácio, todos os andares, as muitas entradas e pequenas salas, a princípio sem sentido para mim. É interessante imaginar como foi possível construírem esses palácios há tantos anos atrás e como eles gastavam espaço, tempo e dinheiro com construções como essas, o palácio tem uma estrutura enorme e toda a área em volta é cercada por um muro de pedras, visitei um estábulo de camelos, a cozinha do palácio e a casa dos soldados, tudo no palácio é muito grande e bem decorado, a conservação não é das melhores, mesmo assim gostei de conhecer. Perdi o caminho de volta algumas vezes e outras vezes os quartos escuros, com morcegos e totalmente vazios, arrepiaram minha espinha, estava praticamente sozinho no palácio, os estreitos corredores e escadas espalhados por todos os lados com um pouco de musgo na parede causado pelas chuvas, fizeram a adrenalina subir, o medo e a curiosidade de entrar em todos os buracos se misturavam.








Forno Tandoor

Jason (Canadá), Charlene (Bélgica), Mana (Japão), Renée (Canadá) e eu.

Voltei para o hotel era quase meio dia, almoçamos e pegamos o taxi para a estação de Jhansi. O hotel custou caro se comparado com os outros que fiquei antes, exatamente Rs 700,00 por pessoa (R$ 30,00) mais o valor do jantar, se você pensar que o hotel inteiro têm só 8 quartos, é difícil entender como eles mantém o hotel com esse preço.

A viagem de volta foi mais rápida, algo em torno de 5 horas e meia em classe com ar condicionado e em poltronas. Tinha ouvido falar que quando se viaja em poltronas eles servem um monte de comida, é verdade. Não consegui comer todas as refeições servidas, acho que 5 no total.



Chegamos de volta em Nova Déli e pegamos o metro, uma nova estação perto da escola ficou pronta, esta foi minha primeira vez no metro de Déli, a fila para comprar os bilhetes era um pouco longa, assim como é em São Paulo, a diferença é que existe diferença de preço dependendo das distâncias entre as estações, do centro de Déli até a escola pagamos Rs 18,00 (menos de R$ 1,00) cada um. O metro é limpo, com segurança reforçada (inclusive com Raio-X para as mochilas) e novo, foi bom saber, os autorickshaws perderam um cliente para longas distâncias.

Mais fotos de Orchha ou Khajuraho? Visite a página Índia, dia 18/09/10.