Diário do Nepal

O quê?
Trekking. Em outras palavras: caminhada pelas montanhas carregando todas as suas roupas, tralhas e outras utilidades em uma mochila nas costas.


Onde?
Annapurna Sanctuary. Nos Himalayas do Nepal.


Com quem?
Guia nepalês da cidade de Kathmandu: Dipendra Bhatta (bhatta_dip45@yahoo.com) – fortemente recomendado.


Qual o trajeto?
Dia 1: Nayapul (Pokhara) até Hille
Dia 2: Hille até Ghorepani
Dia 3: Ghorepani até Chhomrong
Dia 4: Chhomrong até Dovan
Dia 5: Dovan até A.B.C.
Dia 6: A.B.C. até Sinuwa
Dia 7: Sinuwa até Junu (Hot Spring)
Dia 8: Junu até Nayapul (Pokhara)



05/jan/2011 – No aeroporto de Nove Delhi, o vôo atrasou duas horas. Durante o vôo dei uma lida em todas as dicas do meu guia (Rough Guides) sobre Annapurna Sanctuary. Decidi lá mesmo que esse definitivamente seria meu objetivo, só não sabia como fazer.

Chegando ao aeroporto em Kathmandu, o visto é tirado no embarque, custa USD 25,00 e você precisa de uma foto 3x4 com fundo branco, se for fazer trekking vai precisar de mais duas fotos.

Deixei o aeroporto por volta das duas horas da tarde e fui procurar saber como poderia ir para Pokhara onde, segundo meu guia, o roteiro começa. Descobri que havia duas opções, pela primeira eu poderia ir de van que parte de Kathmandu de hora em hora ou poderia ir de ônibus para turistas que partem todos os dias às 7 horas da manhã. Pelas minhas experiências de viajar em carro pela Índia, optei pela segundo alternativa, além de mais seguro seria mais confortável. Para isso precisei dormir uma noite em Kathmandu. Já tinha uma pousada em mente que foi recomendada pelas minhas amigas japonesas Mana e Minami, ambas estavam hospedadas lá. Peguei um taxi e segui para a pousada.

Cheguei lá, isso já eram mais de três e meia da tarde e não tinha almoçado ainda, perguntei pelas japonesas e elas não estavam, aproveitei para almoçar por lá enquanto esperava. Conheci o dono da pousada e começamos a conversar. Quando comentei que estava lá para fazer trekking ele me disse que também tinha uma agência de turismo e que poderia me ajudar. Conversamos mais um pouco depois que almocei, ele fez um pacote incluindo guia, transporte, acomodação e refeição nas montanhas e incluso o pagamento das taxas de autorização para trekking. Sabia que ficaria mais barato se fizesse o trekking por conta, por outro lado não estava certo que eu estava coberto por meu seguro viagem aqui no Nepal, além de esta não ser a época mais recomendada por ser inverno e como não tenho experiência achei que seria melhor pagar um pouco mais para ter uma companhia e algum suporte.

Fechei o pacote com o Mokti (agência Budget Adventure) e aproveitei a tarde livre para conhecer um templo Budista em Kathmandu, depois de encontrar com a Mana e Minami. Fui dormir logo porque o dia vai começar cedo amanhã.




06/jan/2011 – Acordei atrasado com o guia batendo na porta do meu quarto, o horário aqui é 50 minutos diferente em relação à Nova Déli. Não tive tempo de fazer muita coisa, pulei da cama, escovei os dentes, fechei a mala e fomos caminhando para pegar o ônibus, em 15 minutos chegamos ao estacionamento. O trajeto de Kathmandu à Pokhara foi de aproximadamente sete horas e meia, com direito a parada para café da manhã e almoço.

Chegando a Pokhara o taxi estava esperando, fui alugar um saco de dormir e enquanto isso o Dip e o taxista foram pagar as taxas e emitir as autorizações (Entry Permit e TIMS Card – Trekking Information Management System). De carro andamos mais uma hora e meia até Nayapul, foi lá que tudo começou. Andamos por entre uma pequena vila, que aparentemente só está lá por causa dos trekkers, mais duas horas de caminhada e paramos no vilarejo de Hile em Dipak Guest House (tipo de pousada simples somente para dormir, tomar banho - quando possível - e comer). No fim da caminhada, minha mochila que pesava uns 13 quilos estava parecendo pesar 50. Tomei um banho quente e estou aproveitando o tempo de espera da janta para tomar as notas do dia. Vou dormir logo.







07/jan/2011 – Hoje começamos o dia cedo, deixamos a pousada por volta das sete e meia da manhã, andamos por 5 horas até chegarmos a Nangethanti, no caminho passamos por alguns trechos com gelo na trilha e algumas quedas de água muito bonitas, a paisagem é simplesmente incrível. Todos são muito simpáticos e o comprimento “Namaste” é prontamente respondido por todos que andam e vivem por aqui, desde os turistas até as criancinhas. Almoçamos e seguimos por mais uma hora e meia até Ghorepani. É aqui que vamos passar a noite. A pousada tem água quente e um aquecedor na sala de jantar. Lavei minhas roupas em uma água que parecia mais gelada que o próprio gelo. Jantamos com outros viajantes que estavam por lá e depois apreciamos a cantoria de músicas típicas cantadas pelos carregadores (porters) e guias em volta do aquecedor. As músicas cantadas por eles são de melodias sobre saudades e o tom é bastante comovente. Foi bom para relaxar depois de tanto andar.






Este é o segundo dia que janto Dal Bhat, um prato típico nepalês, preparado com arroz, lentilhas, batata com curry, espinafre e picles. O Dip (nascido em Kathmandu) come este prato três vezes ao dia: café da manhã, almoço e janta. E não é só ele, conversando com outros descobri que todos os guias e carregadores fazem essa refeição pelo menos 2 vezes ao dia, eles amam esse prato.

Dal Bhat



08/jan/2011 – Acordamos em Guorepani a uma altura de 2.874 metros por volta às cinco da manhã, nosso objetivo era ver o nascer do Sol a partir de Poon Hill, à 3.210 metros de altitude. Apesar da pequena diferença de pouco mais de 300 metros, no início da caminhada que durou por volta de 45 minutos senti um pouco de falta de ar. Como estava muito frio vestia um casaco pesado e a subida é muito íngreme, precisei parar de tempos em tempos para recuperar o fôlego. Isso me fez pensar como seria difícil passar dos 4.000 metros de altitude.

Chegando a Poon Hill o frio voltou a castigar, depois de andar e andar degraus acima, esperar parado o nascer do Sol ajudou a sensação de frio aumentar. Nada que uma ótima vista e as cores indescritíveis do nascer do Sol não fizessem esquecer o frio. Em pouco tempo as cores fortes e bem definidas de laranja e vermelho do nascer do Sol tomaram o horizonte. Logo depois os picos das montanhas começaram a ser clareadas e em minutos pudemos ver o Sol nascendo no infinito entre as montanhas, que vista meus amigos, que sensação!








Voltamos para o café da manhã e começamos a longa caminhada do dia por volta das nove da manhã. Andamos por volta de 5 horas até pararmos para almoçar em Banthanti, a paisagem deste trajeto foi um pouco diferente, andamos no meio de uma floresta com o solo e as montanhas de pedra parcialmente congeladas, tirando algumas dores nas pernas e pé, foi uma boa e refrescante caminhada. Após o almoço andamos mais de 4 horas, esse foi o dia mais exaustivo até agora. Além de andarmos muito, os sobes e desces das montanhas pareciam não acabar. Vou dormir cedo, minhas pernas precisam de um bom e longo descanso hoje.







09/jan/2011 – Neste dia não tirei muitas fotos do trajeto, estava muito cansado para isso, minha máquina, minha mochila, eu, tudo estava muito pesado para eu gastar energia tirando fotos, passamos por muitas fazendas e vilarejos no meio das montanhas. A idéia era chegar ao vilarejo de Himalaya, mas paramos em uma estação antes: Dovan. Amanhã é o dia. Vamos andar um bocado, mas a meta é chegarmos em A.B.C. amanhã pela tarde, para isso vamos precisar andar montanha acima por mais de 7 horas.






10/jan/2011 – A.B.C - Annapurna Base Camp, eu nem consigo acreditar. “Yes, we can!” Começamos a jornada de mais de 7 horas às oito da manhã, andamos até às 13 e paramos em M.B.C Machhapuchhre Base Camp para almoçar, o caminho foi sensacional. Andamos por penhascos, vales, acompanhamos rios e até que chegamos em M.B.C. A partir de ontem encontramos menos trekkers pelo caminho, este não é o melhor tempo para vir para A.B.C., muitos fazem o trekking até Poon Hill e voltam.

Almoçamos em M.B.C e em menos de duas horas o tempo tinha mudado completamente, antes o sol e a vista clara, depois do almoço tempo muito nublado e uma fina neve caindo. Dip não hesitou, a partir de lá, andamos mais 3 horas pela neve até A.B.C. Bom trabalho Dip. Estou muito feliz, aqui em cima o frio é de doer, agradeço ao pesado e quente saco de dormir que aluguei em Pokhara.






11/jan/2011 – Minha noite em A.B.C não foi a melhor, não conseguia respirar pelo nariz e o ar estava muito gelado, encontrei com um rapaz da Espanha e ele me disse que estava fazendo – 20°C durante a noite em A.B.C., as poucas vezes que cochilei durante a noite acordei com a boca gelada e totalmente seca, minha garrafa de água congelou no criado mudo, precisei colocar a garrafa dentro do saco de dormir junto comigo para poder ter água gelada em vez de gelo.

Tudo passou a valer a pena quando o dia amanheceu, A.B.C fica entre os picos mais altos de Annapurna, fiquei maravilhado com o lugar, o dia estava totalmente claro e limpo, essa é uma das vantagens de andar por aqui durante o inverno. Depois de assistir o nascer do Sol e tomarmos café da manhã começamos a caminhada de volta, isso não significa que iria ser fácil, andamos por mais seis horas e meia até Sinuwa.









12/jan/2011 – Os dias de trekking estão acabando, hoje o dia foi animador, o nosso objetivo era estar até a hora do almoço em Junu (Hot Spring). Chegamos por volta da uma da tarde em Junu. Lavei minhas roupas, inclusive minha calça que tinha usado desde o primeiro dia e passei a tarde toda na piscina de águas quentes. Era tudo que precisava. Com um grupo de trekkers que encontrei em A.B.C. jantei meu Dal Bhat e tomamos uma cerveja Everest para celebrar a conquista! Amanhã é dia de voltar para Pokhara.






13/jan/2011 – Minha noite em Junu foi simplesmente perfeita, meu corpo acordou novo hoje, andamos por 5 horas e meia e fui almoçar em Pokhara, passei a tarde andando pela cidade, fui conhecer o lago e a noite escolhi um aconchegante restaurante para comer um peixe de águas frias. Amanhã pego meu ônibus para voltar para Kathmandu.



Agora já estou no Brasil e quando vejo as fotos tenho certeza que faria tudo de novo. Na próxima vez gostaria de fazer o Circuito de Annapurna, 21 dias caminhando de pico em pico em Annapurna Sanctuary. Obrigado ao Marco Naves pela dica e ao Dip pelo excelente trabalho. Valeu!